Quando nasci ela já tinha aproximadamente 16 anos. E lá se
foram mais 37. Quanto mais o tempo passa, mais me apaixono por ela. Apesar de
seus 53 anos ela continua jovial e ainda tem muito a crescer. Mesmo não tendo
visto seus primórdios, a história de sua origem já a tornava uma terra promissora.
Boa sorte, seu primeiro nome e o seu segundo, Venturosa. Juntando como se fosse
nome e sobrenome teríamos: BOA SORTE VENTUROSA. Entendeu? Vivo numa terra onde
tudo concorre para o bem dos que nela habitam. Uma pequena valente, entre o
calor do sertão e o frio do agreste. Já foi bacia leiteira de Pernambuco e é
conhecida como terra do Queijo. Cenário de filmes. Terra de muitas histórias. E
que histórias! Umas de alegrias, vitórias, conquistas, outras, porém, de dor e
sofrimento. Afinal, a vida não é só de momentos bons. Histórias a parte, o
tempo passa e passa numa velocidade que exige mais apreciação dos momentos, dos
fatos, das pessoas. E num daqueles estalos que nos remete ao passado, às
lembranças, me pego naquela Venturosa onde a tecnologia era coisa de TV. Como
esquecer as brincadeiras de rua como a barra bandeira, o bila, o bacondê (se
esconder) onde se contava de forma enrolada para chegar logo ao fim da contagem
numa velocidade tão rápida que nem dava pra entender direito em que número se
estava, ximbra (bola de gude), peão, papagaio (pipa), do bóba (bobo) – círculo
com pessoa no meio para tomar a bola dos demais, de polícia e ladrão. Como
esquecer as histórias do homem do caixão na ponte que dá acesso à Rua Nova ou
dos valentes de Venturosa que eram temidos em toda região? O progresso veio. O
desenvolvimento chegou, mas tenho muitas saudades e lembranças das ruas e
pessoas, algumas que ainda nos brindam com suas existências e outras,
infelizmente, não estão mais entre nós. Lembro da Praça da Matriz em sua
primeira versão com o círculo no centro, onde brincávamos de bola ou de bila se
equilibrando por cima da estrutura de ferro, também tinha um poste que dava
choque e fazíamos fila para passar o choque de um para o outro e a dúvida era
quem ia ficar por último. Na época que nem todos tinham condições financeiras
favoráveis, a prefeitura disponibilizou uma televisão que ficava numa torre
onde se reuniam várias pessoas para assistir novelas, filmes e jogos; era uma
festa! Um de seus atrativos sempre foi a feira livre e, por falar em feira,
lembro de seu Branquinho Valério que era o responsável pelas bancas. Como não
lembrar da bodega de Seu Luiz da Rodagem e Dona Sebastiana, de Geoz Marinho
dono de armazém de farelo, da Padaria de Dona Dolores que conserva sua
estrutura quase do mesmo jeito, da banda de pífano ensaiando e animando os
fins de tarde no Largo da Matriz ao lado da Igreja, da qual o avô de Sandriel
fazia parte, de seu Ananias que tinha uma vendinha na Rua Neide Japiassú
Araújo, do Bar de Deir onde às terças-feiras escutava os aboios e toadas dos
que tomavam a tradicional dose de vinho, da Loja de brinquedos de Bizo onde
hoje funciona o frigorífico de Zito. Na Rua Manoel Moreno, lembro de Seu Zé
Preto pai de Zé Mildo da Casa das Frutas, lembro de Odon da prótese dentária
(chapa), de Seu Ulisses do veado, de Dona Carminha Caxiado e seu vendedor de
salgados, o Nelson. De Seu Antônio de Iaiá e Dona Maria
de Iaiá, do casarão antigo que fazia esquina da Rua Manoel Moreno com o Largo
da Matriz, atual consultório de Dr. Eudes. Ainda alcancei os aluguéis de
bicicletas no dia da feira para quem queria aprender a andar ou mesmo passear
um pouco. Recordo de Seu Ulisses da Movelaria e sua F1000 vermelha, na qual
sempre “morcegávamos” quando seu filho Geovane ia guardar o dito veículo na
garagem e ficava dando solavanco e aos trancos e barrancos nós morríamos de
rir. Lembro do mercadinho de Seu Zé de Júlia e que quem o vigiava era o Biu
cheirando tabaco sentado numa cadeira na calçada. Do relojoeiro, Seu Walter. Seu
Antônio Doca, Dona Josia Doca e Paulinho com o Bar/lanchonete. De Joel, a quem
adultos e crianças enfureciam quando assoviavam seu apelido Batatinha; parece
até que estou ouvindo os assovios e seu xingamento e valentia perseguindo seus algozes.
Seu Zé da Bateria e, quem o substituiu no ramo, seu Antônio da Bateria. Não há
como esquecer do ponto que virou referência, inclusive política, da rua Manoel
Moreno, o Barraco de Romão – meu pai – onde se lanchava, tomava-se aquele aperitivo
ou mesmo um cafezinho, também vendia-se passagem para São Paulo ou Rio de
Janeiro, o barraco ficava na primeira praça Rua. Tinha a casa de Dona Vitória,
onde hoje funciona o Bar de Aldo e que também já foi o Frigorífico de Beto. E o
Bar de Seu Enxadinha que continua quase do mesmo jeito. E a “casa de jogo” de
Seu Valdecy Silva que ficava onde hoje funciona a Padaria Central. A serraria
de Bezinho que hoje é um prédio desativado que faz esquina com a Rua Manoel
Joaquim da Silva, a popular Rua de Ione. O que hoje quase ninguém tem, na época
era para poucos, estou falando do telefone fixo, da antiga TELPE onde
funcionavam duas cabines telefônicas e com uma atendente – minha irmã Paula já
foi uma delas. Por falar em TELPE, lembro de seu Antônio da TELPE que era o
mensageiro dos telefonemas na cidade. É, nossa Cidade cresceu, os tempos são
outros!
Francis Airon de Brito
Em breve, a continuação do texto! Aguardem!
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