Ele estava lá, mas parecia que
não estava. Fico chocado como aos poucos os seres que levam o nome de humanos
estão cada vez mais desumanos. Era um crepúsculo como outro qualquer que
acontece repetidamente há milênios. Em Recife, em frente ao Hospital Otávio de
Freitas, as pessoas passavam para lá e para cá e aos seus pés estava ele, sujo
e maltrapilho. Apesar de sua condição, percebi que ele observava os transeuntes
que, em sua maioria, nem o olhavam. Não sei o seu nome, sua idade, seus
anseios, nem mesmo sua fome, quer dizer, sua fome era exposta para quem
quisesse ver. É isso mesmo: dava pra ver a fome naquele cidadão que,
independente de qualquer coisa, era um de nós, mesmo sem banho, sem roupas
limpas, sem dinheiro ou emprego, sem família. Aliás, que tipo de família
deixaria um de seus pares abandonado daquela forma? Contudo, ninguém queria
vê-lo ou pelo menos era o que parecia. Homens, mulheres, jovens e crianças, o
movimento era grande, mas todos pareciam insensíveis quanto à situação do pobre
homem. Cheguei a comentar com meu pai que, às vezes, reclamamos da vida que
temos mesmo com casa, comida, roupas boas, calçados, enquanto pessoas como
aquele homem fazem apenas parte da paisagem urbana, querendo apenas um pão que
alivie sua fome até que chegue o amanhecer quando novamente serão ignoradas,
quando novamente mendigarão o pão que deveria ser repartido sem que fosse
implorado. Aquele homem não proferiu nenhuma palavra ou gesto, apenas
observava. Quem sabe se o seu silêncio não fora motivado pelos vários “não” que
recebeu ao mendigar o sagrado pão nosso de cada dia. Antes de levantar-me para,
ao menos temporariamente, saciar a sede e a fome daquele pobre ser humano
abandonado pela sua própria espécie, eis que surgem duas senhoras com um copo
de suco, um copo de sopa e um pão e despertam o pobre homem que de tanto
observar sem ser observado ou notado, ali mesmo, na escadaria da calçada do
hospital, adormeceu. E levantando-se recebe o que talvez tenha sido a única
refeição daquele dia que já se findava, quem sabe até fosse sua refeição há
dias. Chorei ali mesmo no meio da rua, refletindo: a que nível de desumanização
chegamos? Mas graças a Deus que mesmo que em extinção, ainda existem seres
humanos!
VENTUROSA-PE
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