VENTUROSA-PE

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CAPITAL PERNAMBUCANA DE QUEIJO DE COALHO

domingo, 26 de abril de 2015

O homem paisagem

Ele estava lá, mas parecia que não estava. Fico chocado como aos poucos os seres que levam o nome de humanos estão cada vez mais desumanos. Era um crepúsculo como outro qualquer que acontece repetidamente há milênios. Em Recife, em frente ao Hospital Otávio de Freitas, as pessoas passavam para lá e para cá e aos seus pés estava ele, sujo e maltrapilho. Apesar de sua condição, percebi que ele observava os transeuntes que, em sua maioria, nem o olhavam. Não sei o seu nome, sua idade, seus anseios, nem mesmo sua fome, quer dizer, sua fome era exposta para quem quisesse ver. É isso mesmo: dava pra ver a fome naquele cidadão que, independente de qualquer coisa, era um de nós, mesmo sem banho, sem roupas limpas, sem dinheiro ou emprego, sem família. Aliás, que tipo de família deixaria um de seus pares abandonado daquela forma? Contudo, ninguém queria vê-lo ou pelo menos era o que parecia. Homens, mulheres, jovens e crianças, o movimento era grande, mas todos pareciam insensíveis quanto à situação do pobre homem. Cheguei a comentar com meu pai que, às vezes, reclamamos da vida que temos mesmo com casa, comida, roupas boas, calçados, enquanto pessoas como aquele homem fazem apenas parte da paisagem urbana, querendo apenas um pão que alivie sua fome até que chegue o amanhecer quando novamente serão ignoradas, quando novamente mendigarão o pão que deveria ser repartido sem que fosse implorado. Aquele homem não proferiu nenhuma palavra ou gesto, apenas observava. Quem sabe se o seu silêncio não fora motivado pelos vários “não” que recebeu ao mendigar o sagrado pão nosso de cada dia. Antes de levantar-me para, ao menos temporariamente, saciar a sede e a fome daquele pobre ser humano abandonado pela sua própria espécie, eis que surgem duas senhoras com um copo de suco, um copo de sopa e um pão e despertam o pobre homem que de tanto observar sem ser observado ou notado, ali mesmo, na escadaria da calçada do hospital, adormeceu. E levantando-se recebe o que talvez tenha sido a única refeição daquele dia que já se findava, quem sabe até fosse sua refeição há dias. Chorei ali mesmo no meio da rua, refletindo: a que nível de desumanização chegamos? Mas graças a Deus que mesmo que em extinção, ainda existem seres humanos!


Francis Airon de Brito

Foto: Internet

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